quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Devaneios noturnos e meu eu

Aquela história do desapegar é muito mais difícil do que parece. Eu sou apegada, muito apegada ao passado. Eu não deixo as coisas irem. Eu perdoo, mas eu carrego a ferida. E não só a minha, carrego as feridas daqueles que gosto, também. Eu sou cheia de pesos. Sou feita de "vou deixar isso pra lá. Melhor evitar brigas". Eu vivo num eterno afundamento em mim mesma e nos meus próprios pensamentos. Eu estou constantemente achando que eu estou incomodando com minhas conversas sem sentido. No meio disso, eu me realizo quando encontro aqueles que me fazem esquecer tudo. Aqueles que eu não tenho pudor em falar, não escolho palavras e que eu sinto que sentem por mim. Sentem minhas alegrias, minhas dores, meus fardos. São tão poucas boas pessoas que nos identificamos na vida que, quando acontece, é como mágica. É como se tudo fizesse sentido. É como se tudo o que você precisasse pra entender você mesma estivesse o tempo todo por aí, no mundo, e, quando você acha, tudo se encaixa perfeitamente. Mais que perfeitamente. E às vezes, muitas vezes, aliás, a gente não percebe isso. Eu só vi quando eu conheci outros pedaços de pessoas que nunca se encaixarão aos meus. É ruim, mas faz a gente reconhecer a importância daqueles que importam. E é por isso que eu acredito em almas-gêmeas: porque eu achei a minha. E não foi num romance, foi na minha melhor amiga. E é o que, muitas vezes, me dá ânimo pra seguir, a sensação de ter me encontrado no mundo, ter encontrado uma outra eu fora de mim. Gratidão é pouco. É plenitude de vida.

terça-feira, 21 de julho de 2015

Esse vício de eternidade que a gente tem

Quando eu era criança tinha pavor de mudança. Lembro quando uma vez minha mãe mudou o turno que eu estudava na segunda série e eu achei um absurdo. Já tinha uma rotina toda definida e, de repente, tive que construir tudo de novo. O que eu não imaginava naquela época era que isso não aconteceria só uma vez na minha vida, mas várias.
Até pouco tempo continuava não gostando muito de mudanças. Temos que concordar que o novo causa estranheza, às vezes, indiferença, insegurança. Mas, por força do destino ou por um instinto que eu mesma desconhecia, mudar se tornou uma constante na minha vida. Quase uma necessidade.  
Eu li em algum lugar que temos um vício de eternidade. Parece que as coisas só são reais e bonitas se durarem para sempre. É difícil pra gente compreender que um momento pode ser verdadeiro, sem se repetir outras vezes. É difícil acreditar que algo deu certo, se não durou para sempre.
Eu vi num filme que, no fim, a vida seja um processo de abrir mão. E acredito que seja mesmo, mas não de uma forma ruim. É obvio que quando uma coisa é boa surge um pesar de ter que deixá-la, mas deixar não significa abandonar. Vai ser, para sempre, um pedaço nosso.
Hoje, diferentemente daquela criança de oito anos de idade, me sinto de coração aberto para encarar o novo. Hoje, o ponto final se fez necessário para que um outro paragrafo seja escrito. Hoje, entendo que rotinas mudam, pessoas entram e saem de nossas vidas. E ela segue tão bonita quanto antes, mesmo que seja de uma forma diferente.  Hoje, minhas raízes são minhas asas. E, hoje, as turbulências não me impedem de voar.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Sinto muito



Que sentimentos são impossíveis de explicar todo mundo sabe, até soa clichê quando falamos algo do tipo “nem sei dizer o que sinto”. Isso se torna mil vezes mais difícil quando sequer sabemos o que estamos sentindo. Esses últimos dias me aconteceram muitas coisas e acho que em toda a minha existência eu nunca tinha tido um dia em que eu pensasse que tudo estava dando errado, até chegar essa semana. Isso foi se estendendo e me fez pensar sobre esses sentimentos que temos e que são tão confusos que não sabemos nem o que estamos sentindo de verdade.
Um dos fatos que me ocorreram me fez chegar à conclusão de que a pior coisa em relação aos sentimentos é quando queremos ficar tristes por algo, mas não conseguimos. Quando você perde alguém, por exemplo, é como se fosse sua obrigação ficar em luto, chorar, mas nem sempre é o que acontece. Às vezes nem é porque a pessoa fez algo de ruim pra você, mas decepcionou pessoas que você ama, e isso pode ser pior. Quando alguém que é importante se decepciona ou se magoa por culpa de outra pessoa, nós tomamos as dores e, mesmo que o tempo passe, certas coisas não são esquecidas.
O que acontece é que podemos sentir pela perda do outro, mas essa perda pode não ser tão grande pra nós, mesmo sendo a de um ente em comum. Queremos poder sentir mais, ficar tristes por nunca mais ver esse alguém, mas, às vezes, só conseguimos sentir por aquele que amamos estar triste, por ser uma perda pra ele, não pra nós. Talvez possa ficar confuso ou talvez alguém já tenha passado por algo assim, não sei. O que eu sei é que eu realmente queria sentir mais do que estou sentindo agora, mas não posso. Eu só sinto por aqueles que eu amo. E eu sinto muito, profundamente e de verdade.

sábado, 21 de fevereiro de 2015

Meu cabelo vermelho



  Houve uma fase da minha vida que eu queria meu cabelo vermelho. Todo mundo me dizia da dificuldade de manter um cabelo vermelho bonito porque ele desbota rápido e dá trabalho para cuidar, mas mesmo assim eu queria. Pintei. Fiquei satisfeita por um tempo. O cabelo começou a dar trabalho. Escureci. Ou seja, não sosseguei até fazer o que eu queria e aconteceu tudo aquilo que tinham me dito sobre. Mas eu me arrependi? Não.
Essa historinha é apenas para ilustrar que acredito que tem coisas na vida que precisam ser vividas para que a gente possa realmente entender como são, sem se apoiar em ninguém ou culpar uma outra pessoa pelo seu fracasso ou sucesso. Às vezes essas consequências são definitivas, às vezes temporárias. Às vezes, elas são ótimas. Mas, às vezes, não.
  O mais encantador de tudo isso é a liberdade de escolha. Para mim, isso torna as coisas mais leves porque mesmo quando não estou feliz com uma escolha que fiz na vida, sou grata por saber que eu fui a responsável pela minha decisão. Apenas estou colhendo os frutos daquilo que eu plantei.
  Não estou dizendo que ouvir as pessoas não seja importante. É importante e mais do que isso, necessário. Porque às vezes achamos que sabemos as respostas certas, mas talvez nossas perguntas que estejam erradas. É através das experiências dos outros que encontramos alguma referência na hora de viver o desconhecido.
  Me tornei uma pessoa mais grata e consequentemente mais feliz a partir do momento que assumi minhas escolhas, sendo elas boas ou ruins.  Em tudo terá os prós e os contras. Mas é tão melhor ter a oportunidade de decidir por nós mesmos que seguir aquilo que foi imposto pela vida ou por alguém.
  É normal se sentir vulnerável quando é necessário tomar uma decisão. Eu li em algum lugar que mesmo quando não fazemos uma escolha é uma escolha, pois estamos escolhendo não escolher. Não devemos ter tanto medo de escolher errado, os tombos não são tão importantes quando você consegue se levantar. Então pinta o cabelo de vermelho se sentir vontade, mas esteja preparado caso não gostar.